terça-feira, 20 de julho de 2010

Agora está chovendo mais que nunca

Dia de chuva. Não, noite de chuva! Intensa. Como a semana. Hoje faz exatamente uma semana em que um estalo foi disparado em nossas cabeças, a família toda ficou em alerta – e ainda estamos. Mas, sabemos, o alerta - qualquer alerta - para qual nós despertemos, não nos impede, ou melhor, não nos permite que paremos as nossas vidas.

E hoje, aniversário de uma de nós, assim como terça e sábado aniversários de outras duas, é mais um dos dias para nos lembrar que a vida continua, o tempo passa e mais uma idade se completa. E o que fazemos com aquele alerta martelando em nosso juízos? Ele continua, decerto. E é alerta porque não nos explica o certo. Nem o errado. Assim o é também porque não o entendemos. Se assim não fosse, não seria um alerta.

No entanto, desconfio que nem sempre, nem todos, ao depararmos com aquilo que não sabemos, sejamos capazes de despertar. Percebo aí que nem sempre o alerta toca. É aquele período em que os sabores das instigações, das divagações, das apurações tornam-se tão ácidos e corrosivos que é melhor quedar-se no deleite do doce sabor da ignorância silente, muda, cega; da ignorância que, por não nos tirar da zona de conforto, não nos compromete.


E então, agora a chuva caindo, depois de tantas emoções, depois de tanto tempo sem escrever num blog, depois de tantas lembranças vindo à tona, tantas surpresas, tantos desafios, tanto sentimento envolvido, eu aqui descansando, ouvindo o barulho da chuva, meditando a respeito da avalanche que nos tomou de sobressalto essa semana, peguei-me pensando o quão perigoso é essa zona do não-saber e, talvez, o quão perigoso também o é aqueloutra que a tudo quer decifrar.

E, como nada é por acaso, toca uma música que, por mais boba que pareça, muito me toca. Ouço Rhiana cantar “

now is rainning more than never

(agora que está chovendo mais do que nunca)

know that we’ll still have each other

(saiba que ainda teremos um ao outro)

you can stand under my umbrella

(você pode ficar sob meu guarda-chuva)

you can stand under my umbrella

(você pode ficar sob meu guarda-chuva)

A cantora, no contexto da música, refere-se à cumplicidade de um casal, em que ela devota amizade, lealdade e compromete-se com a acolhida do parceiro sempre que ele precisar: “you can stand under my umbrella”, onde podemos entender “umbrella” como o abrigo protetor e seguro com que o outro pode contar.

Outrora citei essa música no flog, mas na versão (a que uma amiga tem aversão) mal traduzida do inglês. E isso foi apenas porque a ouvi muito durante o São João ou porque me marcou bastante, por eu não eu ter, à época, um alguém assim como a personagem da música se dispõe a ser.


Hoje a interpretação, com certeza, foi outra. Não apenas por existir – ainda bem!- um alguém assim em minha vida amorosa, mas por entender a música, o guarda-chuva, como sendo a sombrinha, o grande, o imenso, o imprescindível e insubstituível abrigo em que sempre buscamos todos acolhermo-nos mutuamente: o nosso amor em família.

A sombrinha é, na verdade, uma “sombrona”, a grande sombra de uma árvore linda, frondosa e frutífera, com que sempre – e apesar de todas (e tantas!) discordâncias e diferenças – pudemos e podemos contar.

E então eu me lembrei do dono do restaurante em que almoço diariamente virar para mim (ao perceber provavelmente sinais de cansaço) e, simpático perguntar: “E você, moça, está feliz?” No que eu respondi e devolvi o sorriso: “Não. Não estou. Eu sou!”

E muito, apesar de todo e qualquer pesar. Nada é, pois, tão pesado quando se tem um bom guarda-chuva (e outras tantas coisas) para se acolher.

P.S. Texto escrito no dia do aniversário de Sanda, numa noite de inspiração chuvosa. E porque saí para  comemorar, terminou quase esquecido. Mas não sem tempo de postá-lo hoje que o tempo secou.

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